A escalada da guerra tarifária entre EUA e China ganhou novo capítulo após Donald Trump confirmar que avalia tarifas de até 100% sobre produtos chineses. Segundo o presidente, o objetivo é “proteger a indústria americana e reduzir a dependência de insumos chineses”, mas o gesto reacendeu temores de retração comercial global.
Por isso, neste artigo, te contextualizaremos sobre o que levou à escalada da guerra entre os dois países e qual o impacto global disso.
O que aconteceu na guerra tarifária: a nova rodada de choques
O governo americano acena com tarifas de até 100% sobre produtos chineses, dependendo dos próximos passos de Pequim na disputa por terras raras. Cabe ressaltar que as terras raras são um grupo de 17 insumos críticos para tecnologia, defesa e a indústria automotiva.
O representante comercial, Jamieson Greer, afirmou que a decisão pode sair “até antes” de 1º de novembro, caso a China avance em restrições de exportação desses minerais.
Em paralelo, a China vem reagindo e ampliando a guerra comercial, elevando, assim, a tensão nos mercados globais em sucessivos episódios. Inclusive, ao sancionar empresas estrangeiras, ampliou o atrito com Washington.
Por que “terras raras” viraram peça central na guerra tarifária?
Ex-autoridades americanas têm dito que terras raras são uma “arma útil” de Pequim: por concentrarem etapas críticas da cadeia, restrições de exportação podem travar indústrias inteiras em outros países (de chips a baterias e equipamentos militares). A crítica é que a China ganhou poder de veto sobre cadeias de valor de alta tecnologia e qualquer barreira vira um choque de oferta global.
Embora não sejam realmente “raras” em termos geológicos, sua extração e processamento são altamente concentrados na China, que domina mais de 70% da produção global e quase 90% da capacidade de refino.
Assim, países como EUA, Austrália e Japão vêm tentando reativar minas e investir em alternativas, mas especialistas estimam que levará anos até que surja uma infraestrutura capaz de competir com a escala chinesa. Por isso, esse controle dá a Pequim uma vantagem estratégica inédita: a capacidade de influenciar cadeias produtivas críticas em outros países.
Risco político crescente pela guerra tarifária: a retórica endureceu
No plano político, a retórica subiu de tom. Além do aceno americano às tarifas de 100%, membros do alto escalão dos EUA acusam Pequim de buscar vantagem sistêmica e “derrubar” rivais por meio de práticas comerciais e sanções. O ambiente para conciliação de curto prazo piorou, e a probabilidade de novas medidas unilaterais cresceu.
Como os mercados reagiram à guerra tarifária?
Aversão a risco
Nos Estados Unidos, os futuros do Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq registraram queda, por conta da preocupação com o impacto das tarifas sobre lucros corporativos e cadeias de suprimentos internacionais.
Busca por proteção
O ouro rompeu recorde histórico acima de US$ 4.100, com investidores buscando hedge contra incerteza geopolítica e apostando em juros mais baixos adiante. Essa alta também foi sustentada pela expectativa de que o Federal Reserve (Fed) possa adotar uma postura mais branda nos juros, diante do risco de desaceleração global.
Dólar e Treasuries valorizados
Além do ouro, o dólar e os títulos do Tesouro americano (Treasuries) registraram valorização, mostrando a migração típica de capital para ativos defensivos. Em contrapartida, commodities industriais como cobre, alumínio e níquel caíram, reforçando o sinal de nervosismo no mercado.
Impacto global da guerra tarifária
Já se tornou um conflito econômico de alcance global. Empresas multinacionais de tecnologia, automóveis e energia limpa enfrentam um dilema: manter cadeias na China e correr o risco de sanções ou realocar fábricas para outros países e encarar custos maiores.
Países intermediários, como México, Vietnã e Índia, estão sendo usados como rotas alternativas para escapar das tarifas, mas isso pressiona infraestruturas locais e encarece o transporte. Na Europa, governos tentam equilibrar alianças políticas com os EUA e interesses econômicos com a China, que continua sendo o maior parceiro comercial de dezenas de países.
Economistas avaliam que a tendência é de desglobalização parcial, com formação de blocos econômicos regionais e cadeias produtivas mais curtas. Esse rearranjo reduz a eficiência global, mas aumenta a segurança estratégica, algo que Washington considera essencial para enfrentar a dependência de insumos chineses, especialmente terras raras e semicondutores.
Quais os setores mais expostos pela guerra tarifária?
Alguns setores são especialmente vulneráveis por dependerem diretamente de componentes, insumos minerais e tecnologias que atravessam fronteiras hoje ameaçadas por tarifas e sanções.
- Semicondutores & eletrônicos: Altíssima dependência de insumos/processos asiáticos e de terras raras; qualquer restrição gera gargalo e encarece produção. Fabricar chips envolve processos ultracomplexos e cadeias que passam por múltiplos países, desde o design americano até a produção asiática e o refino de terras raras controlado pela China.
- Veículos elétricos & baterias: Cadeia intensiva em minerais críticos; tarifas e embargos podem atrasar lançamentos e reduzir margens. Além disso, a incerteza sobre o fornecimento pressiona fabricantes a diversificar origens, o que demanda investimentos bilionários em novas minas e gigafábricas fora da Ásia.
- Defesa e aeroespacial: Uso estratégico de terras raras em ligas e componentes; segurança de suprimento é tema de Estado. Esses materiais são essenciais em turbinas, radares, sensores e sistemas de mísseis, tornando o tema não apenas econômico, mas estratégico para a segurança nacional.
- Indústrias com presença na Coreia do Sul: O país é parceiro comercial de ambos os lados e, portanto, alvo de sanções cruzadas. Assim, a recente retaliação chinesa a uma gigante sul-coreana do setor de tecnologia exemplifica como o conflito já ultrapassou as fronteiras bilaterais.
O que esperar daqui para frente?
Diante do impasse, 3 caminhos possíveis podem surgir. Estes variam entre uma escalada total de tarifas a um acordo técnico limitado, ou até um processo gradual de desacoplamento produtivo que já está em curso.
Escalada com tarifas máximas
É o cenário mais agressivo, pois os EUA oficializariam sobretaxas (até 100%), algo já sinalizado pelo governo americano. E a China endureceria licenças/exportações de terras raras, o que poderia gerar gargalos logísticos e elevação de custos em setores cruciais como tecnologia da informação, automóveis elétricos e defesa.
Isso equivalente a um “choque de preços industriais”, com repasse inflacionário em escala global e retração temporária no comércio entre as duas maiores economias do mundo. Assim, mercados emergentes e exportadores de commodities também sentiriam o impacto via valorização do dólar e queda na demanda chinesa.
Armistício técnico
Entendimento parcial para evitar choque imediato em minerais críticos, mantendo a pressão política, mas preservando cadeias essenciais. Trata-se de um “congelamento tático”: o comércio flui, mas sob vigilância e incerteza.
Empresas operariam em modo de “gestão de risco permanente”, diversificando fornecedores e redobrando estoques, enquanto investidores manteriam posições defensivas em ouro, dólar e títulos soberanos.
Desacoplamento acelerado
Empresas redirecionam fornecedores e produção para terceiros países (“China+1”), com custo de transição mais alto e volatilidade mais longa. Assim, se beneficiariam países como Vietnã, Índia, México e Indonésia, além de se reduzir a dependência das cadeias chinesas.
Implicações práticas para investidores
Por isso, o investidor precisa olhar além das manchetes e adotar uma postura mais tática, ao combinar análise setorial, proteção de portfólio e disciplina de risco.
- Cadeias críticas no radar: acompanhe guidances de empresas expostas a terras raras, chips e baterias, pois é o primeiro sinal vem nos custos e estoques.
- Hedges e refúgios: ouro tem funcionado como proteção (máxima histórica), mas atenção ao ritmo de juros: quedas sustentam o metal; surpresas “hawkish” podem tirar fôlego.
- Sensibilidade a manchetes: futuros e bolsas têm reagido diretamente a cada rodada de sanções/retaliações; gestão de risco (stop, tamanho de posição) é essencial.
Com tarifas de até 100% em estudo, sanções cruzadas e uso estratégico de insumos críticos, a guerra comercial entre EUA e China marca uma nova era de protecionismo global. Enquanto Pequim ameaça restringir exportações e Washington reage com tarifas punitivas, o restante do mundo tenta se adaptar ao impacto nas cadeias produtivas e na inflação.
Mais do que uma disputa comercial, o embate se tornou uma guerra de influência e tecnologia. E a conta pode ser paga por toda a economia global.
FAQ – Perguntas Frequentes
É uma disputa econômica entre Estados Unidos e China reacendida em 2025, pela imposição de tarifas, sanções e restrições a setores estratégicos como tecnologia, energia limpa e defesa. O objetivo de ambos os lados é proteger suas indústrias e conquistar maior influência nas cadeias globais de produção.
Porque são um grupo de minerais essenciais para a produção de chips, baterias, veículos elétricos, painéis solares e equipamentos militares. A China domina cerca de 70% da produção global e quase 90% do refino, o que lhe dá poder de influenciar o mercado e pressionar outros países. Ou seja, qualquer restrição chinesa pode paralisar indústrias inteiras e provocar aumentos de preços no mundo todo.
Os mais impactados são tecnologia (semicondutores, eletrônicos), veículos elétricos e baterias, defesa e aeroespacial, além de empresas com fábricas na Ásia.
Tarifas desse nível elevariam o custo de importação de produtos chineses e pressionariam a inflação nos EUA. A China provavelmente responderia restringindo exportações de minerais e componentes estratégicos, o que poderia gerar um choque de oferta global e aumentar a volatilidade nos mercados.
O Brasil sente o impacto de forma indireta: mudanças nas tarifas e na demanda chinesa podem influenciar o preço das commodities, como soja, minério e petróleo. Além disso, a valorização do dólar e a fuga para ativos de proteção podem gerar volatilidade cambial e pressionar mercados locais.
Fonte: InfoMoney







