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Recuperação judicial da Ambipar confirmada. Sim, a empresa protocolou, no dia 21 de outubro, um pedido de recuperação judicial na 3ª Vara Empresarial do Estado do Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo, iniciou processo de falência pelo Chapter 11 nos Estados Unidos.
O movimento ocorre em meio a uma grave crise de liquidez, governança fragilizada e vencimentos antecipados de dívidas que somam bilhões de reais. Isso porque se acenderam luzes de alerta no mercado corporativo brasileiro e nos investimentos internacionais.
A decisão da Ambipar (AMBP3) de recorrer à recuperação judicial marca o desfecho de uma sequência de choques financeiros, operacionais e de governança que abalaram a credibilidade da companhia nos últimos meses.
O pedido foi motivado por uma crise de liquidez agravada por endividamento elevado e vencimentos antecipados de dívidas internacionais. Além disso, segundo documentos oficiais, a empresa declarou passivos de aproximadamente R$ 10,4 bilhões apenas no Brasil, além de bonds externos que somam mais de US$ 1 bilhão (cerca de R$ 5,6 bilhões). Essa combinação pressionou fortemente o caixa da companhia e reduziu a capacidade de honrar compromissos de curto prazo.
Além disso, bancos estrangeiros, entre eles o Deutsche Bank, passaram a exigir garantias adicionais, acionando cláusulas de vencimento cruzado (cross-default) que aceleraram a deterioração financeira. Esse movimento fez com que obrigações de longo prazo fossem antecipadas, reduzindo drasticamente a margem de manobra da Ambipar.
A crise foi amplificada por suspeitas de irregularidades na contratação de operações de swap cambial sob a gestão da antiga diretoria financeira, o que resultou na renúncia abrupta do CFO e levantou dúvidas sobre a integridade das práticas internas de controle. O episódio corroeu a confiança de investidores, agravando a fuga de capital e a queda das ações.
Na B3, os papéis AMBP3 perderam valor de forma vertiginosa, saindo de patamares acima de R$ 10 para menos de R$ 0,50, levando à exclusão da empresa de índices de sustentabilidade e ESG e afastando investidores institucionais.
Esse conjunto de fatores, alavancagem excessiva, exposição internacional, falhas de governança e ambiente de crédito mais restrito, criou o que analistas chamam de “tempestade perfeita”. Assim, a Ambipar, que havia expandido rapidamente por meio de aquisições e operações complexas de financiamento, viu-se sem liquidez suficiente para sustentar o ritmo de crescimento.
Diante desse cenário, o pedido de recuperação judicial surge como tentativa de reorganizar dívidas, preservar ativos e manter as operações essenciais, sobretudo nos segmentos de resposta ambiental, logística e gestão de resíduos. O processo busca garantir fôlego financeiro enquanto a empresa negocia com credores e revisa seu modelo de negócios para recuperar estabilidade.
A decisão não apenas suspende temporariamente a cobrança das dívidas, como também redesenha a relação da empresa com bancos, fornecedores e investidores.
Essa etapa também coloca em evidência a governança e a transparência da companhia. São considerados pontos críticos para a restauração da confiança do mercado e para determinar o futuro da Ambipar.
Este caso se tornou um alerta para o mercado corporativo brasileiro, especialmente para empresas com alto grau de alavancagem financeira, operações complexas no exterior e exposição a variações cambiais.
A recuperação judicial reforça a percepção de risco entre credores e investidores institucionais, que tendem a adotar uma postura mais seletiva na concessão de crédito corporativo. Bancos e fundos de investimento já vêm revisando suas políticas de análise de risco. Isso pode elevar o custo de capital para companhias com perfis semelhantes, principalmente aquelas com endividamento em dólar ou dependentes de financiamento internacional.
Além disso, a crise expõe um ponto sensível da economia brasileira: a fragilidade de governança e transparência em grupos de crescimento acelerado. Casos como o da Ambipar tendem a gerar recuo na confiança do mercado, impactando diretamente o fluxo de capitais e a disposição de investidores estrangeiros em alocar recursos no país.
Em termos práticos, isso pode significar menor apetite por IPOs e emissões de dívida corporativa. Some a isso um ambiente mais rigoroso para empresas de médio porte que buscam financiamento.
Para o setor ambiental, no qual a Ambipar era referência, o episódio também levanta questionamentos sobre a sustentabilidade financeira de negócios ESG. Isso porque dependem de forte credibilidade e estabilidade institucional para prosperar.
O episódio reforça a importância da avaliação de risco corporativo e da diversificação de portfólio. Ainda mais em um cenário de incertezas globais e alta volatilidade nos mercados emergentes.
Nos últimos meses, os papéis da Ambipar registraram quedas superiores a 95% na B3, refletindo a perda de confiança e a fuga de investidores. O colapso de valor acendeu o alerta em gestoras e fundos de investimento que possuíam exposição à companhia. Agora, muitos buscam reavaliar posições em empresas com endividamento elevado e estrutura de capital complexa.
Além disso, a dimensão internacional da dívida da Ambipar, que inclui títulos emitidos no mercado americano, tende a gerar um efeito em cadeia. Fundos estrangeiros que investem em papéis corporativos de empresas brasileiras podem revisar critérios de alocação. Isso aumenta o custo de captação para todo o setor privado nacional.
Para o investidor de varejo, há o risco de investir a partir de narrativas de crescimento e expansão global, sem análise profunda da saúde financeira e da governança. Especialistas destacam que a recuperação judicial deve ser vista como um processo longo e incerto. Além disso, dificilmente garante a recuperação de valor para acionistas minoritários no curto prazo.
Em um contexto mais amplo, o caso Ambipar reforça a tendência de que empresas com selos ESG precisam provar não apenas compromisso ambiental, mas também sustentabilidade financeira e transparência de gestão. A confiança, que levou anos para ser construída, foi abalada em poucos meses. Por isso, reconstruí-la exigirá disciplina, clareza e resultados consistentes.
O pedido de recuperação judicial da Ambipar não é apenas um episódio isolado, mas também um sinal de alerta sobre os limites das estratégias de crescimento acelerado, alavancagem financeira e complexidade corporativa nas empresas brasileiras.
Para investidores e analistas, o caso reforça a necessidade de atenção à saúde financeira, governança corporativa e exposição internacional das companhias. A Ambipar entra agora num processo crítico de reorganização, e seu sucesso ou fracasso será um termômetro para o mercado corporativo brasileiro em 2026.
Fonte: G1
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